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PT: entre a esquerda e o centro.

PT: entre a esquerda e o centro.

1 – A extrema direita avança no Brasil e em quase todo o mundo. Nos EUA, o governo Biden passou de dominador à posição de vítima de sua dominação em relação ao governo de Israel que hoje pauta o governo norte-americano. Os protestos e manifestações contra o genocídio em Gaza nas principais Universidade norte-americanas, bem como as manifestações em toda a Europa, são um sinal forte da perda de apoio eleitoral de Biden. O apoio militar e político ao massacre dos palestinos por Israel tende a favorecer Trump, no plano interno, e Putin, no plano internacional. Trump apoia a extrema direita em toda a parte, e Putin apoia a extrema direita na Europa.

2 – No Brasil, para garantir a governabilidade, o governo Lula fez concessões à direita. O atual governo reúne a centro esquerda, sem poder, e a centro direita e a direita, com poder. É um governo fraco, conseguiu algumas poucas vitórias a preço de fortes concessões ao mercado, aos militares e aos parlamentares de direita do baixo clero, o chamado “Centrão”.

3 – Como afirmou Frei Betto em seu excelente artigo de maio de 2023 “Políticas Sociais Mudam a Cabeça do Povo?”, a resposta a essa pergunta é Não. Os avanços alcançados com uma política social progressista não se traduzem necessariamente em votos. Em seu artigo, ele lembra que ”o Brasil conheceu 13 anos de governos do PT que asseguraram à população de baixa renda vários benefícios: Bolsa Família; salário mínimo corrigido anualmente acima da inflação; Luz para Todos; Minha casa, Minha vida; FIES; cota nas universidades; redução drástica da miséria, da pobreza e do desemprego; aumento da escolaridade etc. No entanto, Dilma Rousseff foi derrubada sem que o povo fosse às ruas defender o governo. E Bolsonaro foi eleito presidente em 2018. Em 2022, perdeu para Lula pela diferença de apenas 2 milhões de votos, de um total de 156 milhões de eleitores”.

4 – Depois desse artigo de Frei Betto, a novidade é que, como ocorre no governo Lula e no governo Biden, os avanços econômicos, assim como os sociais, também não se traduzem em votos. As variáveis macro econômicas — PIB, renda, emprego etc. – têm pouca ou nenhuma influência sobre o comportamento do eleitorado, mais influenciado pelo preço dos alimentos do que por qualquer outro fator econômico. E principalmente influenciado pela rejeição ao mundo político institucional, pela crítica ao “sistema”, típica do discurso reducionista da extrema direita. E Lula, agora, é o “sistema”.

5 – Assim, os benefícios econômicos e sociais trazidos pelo atual Governo, em troca de concessões aos empresários, militares e parlamentares de direita, não geram necessariamente apoio eleitoral. Na eleição de 2022, Lula teve uma vitória eleitoral, mas não uma vitória política. O governo Lula implementa uma política econômica conservadora e uma política social progressista, embora reprimindo algumas reivindicações populares. Respeitando os dogmas do neoliberalismo, como déficit zero e austeridade fiscal, o Ministro Haddad, com seu perfil de PSDB clássico, cumpre hoje um papel igual ao dos Ministros conservadores do passado. Haddad defende principalmente os interesses do mercado financeiro e do agronegócio, e nega aumento de salário para funcionários públicos e diversas categorias como, por exemplo, os professores. E o PT segue atrás, em nome do combate à extrema direita.

6 – Nesse quadro que vem se consolidando, o PT tende a se transformar naquele PSDB do passado que se dizia social democrata, mas apoiava o neoliberalismo? Saberemos provavelmente depois das próximas eleições municipais com a previsível superioridade eleitoral da direita em todo o país. Isso vai pressionar o Governo Lula mais à direita, em busca de apoio. Assustados com o avanço da extrema direita, tende a se fortalecer na esquerda a posição de apoio incondicional ao Governo Lula contra a ameaça da extrema direita, já que a direita tradicional foi engolida pelo bolsonarismo. Nas eleições presidenciais de 2026, a tendência é a polarização entre uma candidatura liberal de centro, representada por Lula ou Haddad, com apoio da centro esquerda e centro direita, e uma candidatura fascista, com apoio da direita e da extrema direita, representada por Tarcísio, Caiado ou quem vier.

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7 – Uma contratendência importante é o que ocorre na eleição municipal de São Paulo, onde o PT apoia Boulos, candidato do PSOL. Esse é o grande dilema do PT daqui para a frente: fazer aliança com a esquerda ou acompanhar Lula em sua busca de ganhar a direita liberal? Diante disso, a esquerda não vai desaparecer, mas vai se enfraquecer, dividida em duas posições principais que já são visíveis no horizonte: a) o apoio crítico ao Governo Lula com medo da extrema direita, mesmo com críticas às vezes maiores do que o apoio, e b) a coerência com sua agenda tradicional, ensaiando os primeiros passos para uma alternativa de esquerda que, pelo menos no princípio, seria mais ideológica do que política.

8 – O caminho para a esquerda superar esse impasse já foi apontado inúmeras vezes por muitos analistas: a esquerda em geral, principalmente os partidos, os movimentos sociais, os sindicatos e associações profissionais devem sair de suas respectivas bolhas e ir para a base, conversar e politizar suas tradicionais áreas de apoio, com frequência abandonadas. O mesmo vale para a base das igrejas evangélicas, onde estão pobres e oprimidos, vítimas fáceis dos pastores de direita.

9 – Eis o dilema: Decifra-me ou te devoro! O que fará o PT? Vai acompanhar a liderança de Lula, que tem muito mais prestígio do que o seu partido, ou vai permanecer fiel aos valores de seu programa histórico? O PT vai se transformar num partido social democrata com políticas liberais repressivas no econômico e progressistas no social ou, coerente com sua história política, vai se afastar da caminhada de Lula para o centro e centro direita?

10 – O presente texto não tem a intenção de ser afirmativo, muito menos de esgotar o assunto. O objetivo foi analisar algumas contradições e explorar tendências. Alguns traços importantes da conjuntura política já apontam em certas direções. Mas nada é pré determinado, tudo depende da ação política e do confronto dos atores políticos em defesa de seus interesses. No caso do PT, há vozes discordantes no partido. A polifonia é benvinda.

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