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Financeirização: Problema de mercado de ações ou de títulos de dívida?

Financeirização: Problema de mercado de ações ou de títulos de dívida?

Na economia do passado, a riqueza pessoal era predominantemente imobilizada em ativos imobiliários com baixa liquidez e baixos rendimentos de aluguel ou arrendamento. No entanto, era mais dinâmica em termos de crescimento do PIB em comparação com a economia contemporânea caracterizada pela financeirização. Essa observação crítica compara o crescimento do fluxo de renda na indústria nascente e o do estoque de riqueza na economia globalizada.

A Ásia (China, Tigres Asiáticos, Índia etc.), em fase de indústria nascente, não foi extremamente dinâmica? Após um certo estágio, o capitalismo ocidental  não foi regulado para evitar a instabilidade inflacionária com baixo crescimento da renda?

A imobilização de riqueza em ativos imobiliários (rurais ou urbanos) de baixa liquidez reduzia a circulação de capital na economia, resultando em menor mobilidade social. Com menos capital disponível, para investimentos em negócios produtivos, inovação e desenvolvimento, o crescimento dos empregos era mais lento diante o necessário para ocupar toda a população economicamente ativa.

Uma grande mudança ocorreu quando o estoque da riqueza financeira passou a ser capitalizado por juros compostos em ritmo muito superior à taxa de crescimento da renda. Surgiram as características distintas da economia no presente com a financeirização. Os mercados financeiros oferecem alta liquidez, permitindo os ativos financeiros serem comprados e vendidos rapidamente por uma faixa muito maior da população ao incorporar como investidores os trabalhadores do varejo de alta renda, geralmente, com formação universitária.

A financeirização permite muitas opções de investimento, desde ações e títulos até instrumentos financeiros mais complexos, como derivativos. Essa diversificação de carteira propicia empresas e empreendedores terem maior acesso a capital através de mercados financeiros, incentivando a inovação e o crescimento.

A alta liquidez e a facilidade de movimentação de capital promovem um ambiente financeiro mais dinâmico e responsivo às demandas por financiamentos, gestão de dinheiro e meios de pagamentos digitais. Com maior disponibilidade de capital, há mais oportunidades para investimentos em inovação, tecnologia e expansão empresarial, impulsionando o crescimento econômico em escala global.

Embora a financeirização possa promover crescimento, ela também aumenta a volatilidade e a vulnerabilidade a crises financeiras, devido à interconectividade dos mercados. De qualquer forma, a comparação é favorável a ela por oferecer alta liquidez, facilitando a movimentação e alocação de capital para oportunidades de investimento, diante os ativos imobiliários com baixa liquidez, os quais dificultavam a rápida conversão em capital para reinvestimento.

Os bancos bem regulados financiam o crescimento econômico, gerenciam riscos financeiros na gestão do dinheiro e viabilizam um sistema de pagamentos digitais. A financeirização refere-se ao aumento da importância dos mercados financeiros, instituições financeiras e motivações financeiras na economia, criticada pelos carentes de uma visão holística, por suporem ela se dar à custa da produção.

Facilita o acesso a grandes volumes de capital para investimentos, inovação e crescimento empresarial. Aloca recursos de maneira lucrativa, direcionando capital para onde ele é mais rentável. Oferece instrumentos para a diversificação e gestão de riscos financeiros, beneficiando tanto empresas quanto investidores.

Entretanto, se tiver um foco excessivo em ganhos de curto prazo, desvia recursos de investimentos produtivos de longo prazo. Exacerba a desigualdade se beneficiar desproporcionalmente os detentores de ativos financeiros.

Economias sem bancarização e financeirização sofrem dificuldades para se desenvolverem. A ausência de acesso a serviços financeiros básicos limita a capacidade de consumidores e empresas usufruir plenamente da economia. Há menos inovação financeira e menor acesso a capital, para investimentos em grande escala, restringindo o potencial de crescimento econômico global.

A comparação entre a Economia de Mercado de Ações e a Economia de Endividamento envolve analisar como cada uma contribui para o enriquecimento e o crescimento da renda. Cada qual tem suas próprias dinâmicas, vantagens e desvantagens. A primeira à norte-americana se relaciona mais à “financeirização”.

A Economia de Mercado de Capitais é caracterizada por um sistema financeiro onde o financiamento das empresas se dá majoritariamente pela emissão de ações. Os investidores compram participações acionárias nas empresas, tornando-se associados em lucros e perdas. O retorno sobre o investimento vem na forma de valorização das ações (ganhos de capital) e distribuição de dividendos.

Empresas levantam grandes quantidades de capital ao emitir ações, permitindo financiamento para expansão, inovação e outras atividades produtivas. O risco é distribuído entre muitos investidores, reduzindo o impacto de perdas sobre um único indivíduo proprietário ou uma instituição controladora.

Empresas listadas em bolsas de valores são obrigadas a manter altos níveis de transparência e governança corporativa. Ajustam suas estratégias financeiras conforme necessário, sem as obrigações fixas, associadas ao endividamento.

No entanto, a emissão de ações dilui o controle dos proprietários originais da empresa. Investidores “seguidores de tendências” (altistas) pressionam por retornos rápidos, incentivando decisões de curto prazo em detrimento de estratégias de longo prazo. Os preços das ações se tornam voláteis, influenciados por fatores sem refletirem os fundamentos da empresa.

A Economia de Endividamento se baseia no financiamento por meio de empréstimos e emissões de títulos de dívida. As empresas tomam empréstimos de bancos ou emitem debêntures para levantar capital, remunerado com juros.

O endividamento permite os proprietários manterem o controle total sobre a empresa, pois não vendem participações acionárias. Em consequência, não altera a estrutura acionária da empresa, proporcionando estabilidade na propriedade. Os juros pagos sobre a dívida são dedutíveis para fins fiscais, reduzindo a carga tributária da empresa.

As empresas têm obrigações fixas de reembolso, arriscando-se em períodos de baixa receita ou crises econômicas. Os pagamentos de juros e principal talvez consumam uma parte significativa do fluxo de caixa, limitando a capacidade de reinvestimento. Altos níveis de endividamento aumentam o risco de insolvência se a empresa não conseguir cumprir em dia suas obrigações de dívida.

Investidores em ações se beneficiam de maiores ganhos de capital e dividendos, permitindo um grande potencial de enriquecimento se as empresas tiverem bom desempenho. O mercado de ações fomenta a alavancagem financeira, fornecendo capital para inovação e expansão empresarial inclusive com novos empregos. A propriedade de ações é possível de ser mais amplamente distribuída, permitindo um maior número de pessoas participar dos lucros do crescimento econômico.

Em contraste, o financiamento por dívida é uma ferramenta eficaz para empresas com fluxos de caixa estáveis, permitindo crescimento e expansão sem diluição de controle. Mas o endividamento concentra riscos financeiros e leva à insolvência, em tempos de dificuldade econômica, impactando negativamente os proprietários e os credores.

Para empresas bem administradas, a dívida proporciona uma forma estável de financiar o crescimento, embora propicie menos potencial de enriquecimento rápido se comparado ao do mercado de ações. Ambos os modelos têm o potencial de propiciar enriquecimento, mas operam sob dinâmicas diferentes.

A Economia de Mercado de Ações oferece maior potencial de enriquecimento, devido ao acesso a capital e à possibilidade de valorização das ações, mas também envolve maior volatilidade e pressão por resultados em curto prazo. A Economia de Endividamento proporciona crescimento estável e manutenção de controle, mas traz riscos associados às obrigações fixas de dívida e à possível insolvência.

A escolha entre esses modelos depende antes da história econômica de cada país, até chegar ao contexto específico da empresa, do setor e das condições econômicas gerais. Idealmente, um mix entre ações e dívida ofereceria uma estrutura financeira mais prudente, aproveitando os benefícios de ambos os tipos de sistema financeiro, enquanto mitiga as desvantagens de cada.

Os críticos contumazes da “financeirização” deveriam rever seus conceitos.  Em vez de comparar com o passado, seria mais profícuo analisar a evolução sistêmica.

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