Mais de três milhões de pessoas foram deslocadas devido à guerra no Sudão
De acordo com o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, o conflito armado resultou na morte de pelo menos 1100 civis – dos quais 435 eram crianças – e deixou milhares de feridos
Por Correspondente IPS em Genebra
Um relatório da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) divulgado nesta segunda-feira, 24, informou que os 100 dias de conflito entre facções armadas no Sudão forçaram mais de três milhões de pessoas a se deslocarem, sendo centenas de milhares delas para países vizinhos.
“Esses números são assombrosos. Civis que não têm nada a ver com esse conflito estão sendo dolorosamente expulsos de suas casas e de seus meios de subsistência todos os dias”, disse Filippo Grandi, alto comissário da ONU para os refugiados, ao apresentar o relatório em Genebra.
Além disso, de acordo com o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, o conflito armado resultou na morte de pelo menos 1100 civis – dos quais 435 eram crianças – e deixou milhares de feridos.
A guerra civil irrompeu em 15 de abril entre as Forças Armadas do Sudão (FAS) e a Força de Apoio Rápido (FAR), uma milícia paramilitar liderada pelos generais Abdel Fattah al Burhan, das FAS, e Mohamed Hamdan Dagalo, das FAR, com bases em várias regiões.
Mais de 3,3 milhões de pessoas foram deslocadas internamente e através das fronteiras do país, incluindo mais de 740.000 refugiados e um número crescente de repatriados. Eles fugiram do Sudão e chegaram em condições terríveis aos países vizinhos, incluindo Chade, República Centro-Africana, Egito, Etiópia e Sudão do Sul.
Além disso, mais de 185.000 refugiados acolhidos pelo Sudão – um país com 1.765.048 quilômetros quadrados e 47 milhões de habitantes – foram forçados a se deslocar para áreas mais seguras dentro do território sudanês, ficando presos em um ciclo implacável de deslocamento.
A escalada do conflito em Cartum, a capital, e nas regiões de Darfur e Kordofan (oeste e centro) provoca deslocamentos em massa e aumenta os relatos de violações graves dos direitos humanos, incluindo violência sexual.
A Acnur declarou-se alarmada com a grave crise de saúde e nutrição no estado do Nilo Branco (sul), onde 300 crianças refugiadas do vizinho Sudão do Sul morreram de sarampo e desnutrição desde o início do conflito.
“Isso precisa parar. É hora de todas as partes envolvidas no conflito encerrarem imediatamente essa guerra trágica. Enquanto aguardamos pelo tão necessário diálogo, as pessoas devem ser autorizadas a deixar as áreas de conflito em busca de segurança, seja dentro ou fora do país, protegidas de todas as formas de violência”, ressaltou Grandi.
À medida que mais pessoas continuam a fugir, os locais de deslocamento dentro do país e nos países vizinhos estão se tornando rapidamente superlotados. No Sudão do Sul, os centros de trânsito administrados pela Acnur estão cada vez mais superlotados devido ao fluxo contínuo de pessoas.
O Chade já abriga mais de 400.000 refugiados sudaneses em 13 campos e em comunidades locais no leste do país. No Egito, a maioria dos que chegam do Sudão são mulheres e crianças que precisam de alimentos, água, abrigo, assistência médica e apoio psicossocial.
“Continuamos a pedir a todos os estados que removam as barreiras para a entrada de civis que fogem do Sudão, incluindo pessoas sem documentos, para que possam ter acesso à segurança, proteção e assistência”, insistiu Grandi.
Antes da crise, o Sudão abrigava 1,1 milhão de refugiados, principalmente do Sudão do Sul, Eritreia e Etiópia.
Quanto ao financiamento, os recursos têm chegado com dificuldade, de acordo com a Acnur. Dos 566 milhões de dólares solicitados pela agência e seus parceiros para o plano regional de resposta a refugiados, apenas 24% foram recebidos.
*Imagem em destaque: A distribuição de alimentos em um campo de refugiados sudaneses em Adre, oeste do Chade. A guerra entre facções militares no vizinho Sudão já custou a vida de pelo menos 1100 civis – centenas deles crianças – e deslocou mais de três milhões de pessoas de suas casas (Julian Civero/PMA)
**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução de Marcos Diniz
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