Limites da crueldade humana
As crianças que são vítimas desse crime também são dirigidas à exploração sexual e redes de pedofilia, remoção de órgãos ou adoção ilegal. Algumas são raptadas e traficadas para servirem como soldados de guerrilhas pelo mundo e no tráfico de drogas. É uma realidade chocante. Mais da metade das vítimas do tráfico são crianças que…
No interminável elenco das desumanidades praticadas pelo próprio homem destaca-se o tráfico de pessoas para a escravidão, a prostituição ou a retirada de órgãos. E neste espectro uma das mais cruéis talvez seja o sequestro de crianças albinas, prática adotada em algumas regiões da África, para a retirada das vísceras e dos ossos pela crença de que garantiriam poder e riqueza além de tratamento para impotência sexual, infertilidade e HIV.
Às vezes são os próprios pais que vendem seus filhos albinos. Os órgãos de um albino chegam a custar 75 mil euros ou mais, se for uma criança. Um albino vivo vale 300 mil euros, neste comércio satânico. Dos vários tipos de tráfico de seres humanos, este é o que envolve mais dinheiro. As redes de tráfico estendem-se pela Tanzânia, Moçambique, Malawi, Burundi, Quênia, Suazilândia e África do Sul. Delas fazem parte assassinos, sequestradores, curandeiros e traficantes. Os clientes são políticos e homens de negócios africanos, principalmente sul-africanos, em busca de mais poder e mais dinheiro.
O mercado
O escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime calcula que o valor do tráfico de pessoas no mundo ultrapassa os 30 bilhões de dólares por ano. As vítimas são na maioria mulheres usadas para exploração sexual, trabalho escravo ou para a extração ou comércio de órgãos e tecidos. Na busca de uma vida melhor, homens, mulheres e crianças são iludidos ou coagidos a se deslocarem para longe de casa e acabam submetidos à escravidão.
Os países da União Europeia registraram no ano passado cerca de 20 mil pessoas que foram vítimas desse tráfico e as estatísticas contabilizam 72 por cento de mulheres e meninas. As crianças representam um quarto de todas as vítimas contadas, das quais mais da metade foram alvo de tráfico para exploração sexual. O restante representa os que foram usados para a remoção de órgãos ou foram obrigados a outros tipos de trabalho forçado como a servidão doméstica ou para mendigarem nas ruas.
O tráfico de drogas, armas e de seres humanos são as três maiores fontes de lucros do crime organizado. O tráfico humano é um dos mais lucrativos e cerca de 2,5 milhões de pessoas são vítimas a cada ano.
Os números devem ser muito maiores, diz a própria União Europeia, porque inexistem estatísticas confiáveis. O Instituto Europeu para o Controle e Prevenção do Crime calcula em 500 mil o número de pessoas traficadas a cada ano de países pobres para os países ricos da Europa, uma estatística que está em crescimento constante. O Brasil é hoje na América do Sul o país com o maior número de mulheres traficadas para a prostituição. A atividade tem baixo risco e altos lucros para os criminosos. As vítimas entram no país destino com vistos de turismo e a exploração sexual é disfarçada por atividades legais como agenciamento de modelos, dançarinas, modelos, babás ou garçonetes.
As vítimas quase sempre não têm consciência de que a viagem se destina à exploração sexual. Quando chegam permanecerão presas e vigiadas em cárcere privado, serão obrigadas a trabalhar mais de 10 horas por dia, não podem recusar clientes e são submetidas ao uso abusivo de drogas e álcool para permanecerem despertas. Estão sujeitas a doenças, sofrem agressões de clientes e espancamento dos aliciadores. Permanecem durante pouco tempo num determinado prostíbulo até serem revendidas a outro para que sejam sempre oferecidas novas opções aos clientes.
As crianças que são vítimas desse crime também são dirigidas à exploração sexual e redes de pedofilia, remoção de órgãos ou adoção ilegal. Algumas são raptadas e traficadas para servirem como soldados de guerrilhas pelo mundo e no tráfico de drogas. É uma realidade chocante. Mais da metade das vítimas do tráfico são crianças que serão vendidas para fins de exploração sexual ou para o comércio ilegal das drogas. Uma criança pode ser vendida a um traficante pelos próprios pais ou pelo responsável pela sua guarda e pode mudar de mãos durante a circulação, passando de um a outro traficante. O Protocolo de Palermo, das Nações Unidas, considera criança qualquer pessoa com menos de 18 anos.
As rotas do tráfico
Foram mapeadas 132 rotas do tráfico internacional de pessoas utilizadas pelas quadrilhas que operam desde o Brasil. Há uma grande variedade e constantes mudanças de trajeto a partir do momento em que a polícia começa a investigar ou reprimir determinada rota. Os caminhos têm início normalmente em pequenas cidades do interior em direção aos grandes centros ou para regiões de fronteira internacional.
Nas rotas para o exterior o destino são os países europeus, em especial a Espanha. Da Espanha espalham-se para os outros países do continente. Mas há também grande número de rotas para países da América do Sul, notadamente Guiana Francesa e Suriname, e também para a Ásia.
As rotas internas, para outros estados brasileiros, têm como vítimas mais frequentes as adolescentes e as rotas internacionais miram preferencialmente as mulheres adultas. As redes de tráfico costumam camuflar-se como agências de emprego ou de casamentos.
Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).