Flávio Jorge, Presente!
O movimento negro e o PT perdem um lutador fantástico que ainda tinha muito a oferecer em vida!
POR PAULO CÉSAR RAMOS
Flavinho, paulista de Paraguaçu Paulista, se formou na PUC/SP em Contabilidade, nos anos 1970, onde conheceu o movimento estudantil, atuou na esquerda trotskista e clandestina. Esteve na fundação do PT, e liderou o Grupo Negro da PUC. Foi da gestão de Luiza Erundina, e em 1991, liderou a organização do 1 Encontro Nacional de Entidades Negras que deu origem à Coordenação Nacional de Entidades Negras/CONEN.
No PT, foi eleito o primeiro secretário nacional de combate ao racismo do partido, em 1995, e foi da executiva nacional quando participou do Grupo de Trabalho Eleitoral que elegeu Lula em 2003. Foi um dos articuladores da criação da SEPPIR. Foi diretor financeiro da Fundação Perseu Abramo por dez anos.
Quando em 2008, eu o conheci, ele também atuava na CONEN, onde ficou até hoje. É muito difícil estimar o quanto tê-lo conhecido impactou na minha trajetória como militante e como acadêmico. Flavio era da política, mas nunca caiu na esparrela de se opor à academia, e os jovens eram incentivados à leitura e estudos sistemáticos. Sempre que eu lhe apresentava uma ideia de pesquisa, livro etc., ele era categórico no seu apoio, dando ideias e abrindo a caminho, afiançando sua confiança em mim.
Ele era dos pragmáticos que tinham um propósito ideológico muito firme, nunca titubeando quanto à sua posição de classe, de raça, ouvindo ativamente mulheres e jovens. Eu sempre me aconselhei com ele, mas já ouvi muitas coisas de que não gostava. Ele foi das pessoas que pegou na nossa mão, na minha e de muitos outros me minha geração.
Há poucos anos ele ajudou a articular a doação do acervo material de sua organização, Soweto, ao projeto Afro Memória, outro trabalho, a memória, em que ele se empenhava muito, E ainda hoje mesmo eu discutia um artigo sobre sua atuação, com outro destas pessoas que ele atuou e apoiou.
A foto acima registra a ocasião em que eu o entrevistei a convite da Fundação Perseu Abramo, e acho que esta foi sua última entrevista. Eu perco uma referência importante que sempre deixou claro que não gostava de bajulação e homenagens em vida (sempre ria quando as pessoas diziam que o respeitavam, mas não votavam com ele). Perco uma voz sincera da qual eu sabia que ouviria a verdade e direta (taquigráfico, como disse um amigo nosso).
O movimento negro e o PT perdem um lutador fantástico que ainda tinha muito a oferecer em vida!
Flávio Jorge, Presente!
Paulo César Ramos é sociólogo, coordenador do projeto reconexão periferias da Fundação Perseu Abramo, e coordenador do Projeto Afro Memória (CEBRAP e AEL/Unicamp).
Paulo César Ramos é sociólogo, coordenador do projeto reconexão periferias da Fundação Perseu Abramo, e coordenador do Projeto Afro Memória (CEBRAP e AEL/Unicamp).