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Finanças comportamentais para trabalhadores

Finanças comportamentais para trabalhadores

Ao aprender a investir por conta própria o(a) futuro(a) trabalhador(a) dispensa a terceirização na gestão de sua carteira de ativos. Visa a manutenção do padrão de vida durante a aposentadoria

Há anos ministro uma disciplina eletiva, em especial para alunos do último ano da graduação do IE-UNICAMP, cujo objetivo é divulgar ensinamentos sobre a Cultura Financeira. Ensino conhecimentos a respeito das formas de acumulação e manutenção de riqueza através da seleção de carteira de ativos, além de técnicas de planejamento financeiro da vida pessoal até a aposentadoria, para substituir a renda do trabalho pela renda do capital financeiro e/ou imobiliário.

Alguns cientistas, em uma área transdisciplinar, empenharam-se em conhecer os fatores racionais e emocionais capazes de levar os indivíduos a gastar ou investir. Áreas distintas da Ciência somaram conhecimentos para estruturar o campo de estudo destinado a cumprir essa tarefa, conhecido como Neuroeconomia.

Ela é resultado da união de ferramentas de investigação e conhecimentos da Psicologia, da Economia e da Neurologia. Apoiou-se também em sofisticados aparelhos de diagnóstico por imagem ou tomografia, por ressonância magnética funcional e/ou por eletroencefalograma portátil, em forma de capacete.

De um lado, desenvolveu-se o chamado Neuromarketing. Usa as ideias sobre a tomada de decisões para atiçar as vendas, mas ajuda também a descobrir meios de melhorar as reações do consumidor, prevenindo-o contra impulsos emocionais.

De outro lado, cursos de Neurofinanças para leigos são ministrados por economistas especialistas em Finanças Comportamentais. Ensinam os alunos a evitar as armadilhas da mente humana e a tomar decisões vantajosas no tempo certo.

Para orientação a respeito, esses economistas se debruçam sobre a extensa evidência de experiências, compilada por psicólogos cognitivos sobre vieses heurísticos sistemáticos. Surgem quando as pessoas formam crenças ou preferências a respeito de decisões financeiras.

Educação Financeira é uma necessidade para todos! No caso do meu curso, focalizo-a para universitários, oferecendo conhecimentos a respeito de rendas do trabalho, do capital produtivo, do capital financeiro, do capital imobiliário, neuromarketing ou prevenções contra impulsos emocionais para consumir, neurofinanças ou psicologia dos investidores, finanças comportamentais, planejamento financeiro da vida pessoal e/ou familiar, planejamento financeiro da aposentadoria, planejamento da sucessão patrimonial e/ou tributário, economia da felicidade ou da boa vida.

Nos últimos anos, houve grande demanda por matrículas. No 1º semestre de 2021, como foi oferecido de maneira remota, dado o distanciamento social, não houve limites em razão de tamanho de sala de aula: foram 90 alunos, inclusive da UNIOESTE-PR, por terem escutado a respeito da possibilidade de se matricularem como alunos especiais.

De volta ao limite presencial, nas salas de aula no IE-UNICAMP, 60 alunos se matricularam no 1º semestre do ano passado. Usei robô para transmitir à distância e gravar, além de alto-falante para todos me escutarem, mesmo usando máscara contra covid.

Portanto, continuo com entusiasmo ensinando o conhecimento acumulado durante ½ século, desde quando ingressei na FACE-UFMG. Certos procedimentos metodológicos distinguem o curso: apresentar fatos e dados, além de teorias e conceitos, para os alunos deduzirem por si mesmo o melhor planejamento de sua vida financeira.

Ofereço aulas expositivas a partir da literatura de Finanças Comportamentais. Os alunos são alertados contra erros contumazes, dados os vieses heurísticos de leigos, e prevenções possíveis.

Uso pesquisas de dados de renda e riqueza dos declarantes das DIRPF, classificados por natureza ocupacional, e sobre os produtos financeiros dos clientes segmentados em Varejo Tradicional, Varejo de Alta Renda e Private Banking. Ao mesmo tempo, os futuros economistas se informam sobre os motivos educacionais da concentração de renda e riqueza existente no Brasil e planejam sua vida financeira.

Apresento as remunerações médias durante os diversos ciclos de vida profissional e titulações acadêmicas. Para tanto, eu me apoio em famílias profissionais da RAIS – Relação Anual de Informações Sociais e a hierarquia salarial de carreiras docentes.

Ensino fazer simulações do orçamento doméstico a partir da formatura. Pesquiso informações reais para as principais despesas, inclusive sobre plano de saúde e valores de (e gastos com) automóveis ao longo do tempo. Os alunos refletem sobre a alternativa entre assumir prestação imobiliária em compra de imóvel ou pagar aluguel.

Proponho cada aluno fazer uma avaliação da possível sobra de renda líquida disponível, mensalmente, para aplicações em distintas fases da vida profissional. Daí dou orientações para planejamento das Finanças Pessoais até a aposentadoria, inclusive, em período quando poderão ocorrer mudanças de cenários macroeconômicos.

Os alunos aprendem também o uso prático de calculadora financeira, para estimar quanto será necessário acumular, durante a fase ativa da vida profissional, de modo a manter o padrão de vida durante a fase de vida inativa, levando em conta a “esperança de vida”. É essencial a utilização de Matemática Financeira, para calcular um plano de aposentadoria, estimando aplicações, retiradas, prazos, rendimentos reais esperados com desconto da inflação etc.

Apresento as alternativas disponíveis para aplicações e critérios de escolha de portfólio recomendável tecnicamente. Cada aluno se exercita ao escolher os percentuais de aplicações em sua idealizada seleção de carteira, inclusive imóveis e outros ativos, diante de diversos cenários.

Com base em minhas lições de vida familiar dou dicas para finanças dos trabalhadores. Penso os capitalistas já terem assessoramento pessoal – e as dispensar…

Então, os alunos aprendem a planejar de acordo com ciclos de vida profissional e os cenários esperados. Um equívoco comum é chamado de miopia financeira – ver perto e não enxergar longe.

Ocorre quando o rentista troca a fase de acumulação por fase de consumo. É natural na fase reprodutiva do animal humano, quando ainda jovem, o desejo de seduzir parceiros sexuais. Faz então gastos consumistas em bens supérfluos para melhorar a aparência.

Ao aprender a investir por conta própria o(a) futuro(a) trabalhador(a) dispensa a terceirização na gestão de sua carteira de ativos. Visa a manutenção do padrão de vida, durante a aposentadoria, quando necessariamente se tornará um(a) rentista com os rendimentos dos juros e eventual renda da Previdência Complementar.

A concentração da riqueza relaciona-se também com as escolhas de natalidade — quanto menos filhos os ricos tiverem, maior será a concentração patrimonial — e as regras de transmissão de herança e doações.

Lamentavelmente, há uma trindade impossível na República: o amor paterno dedicado pelos pais aos seus filhos torna impossível uma sociedade ser, ao mesmo tempo, justa, livre e igualitária. Se é justa, as pessoas mais esforçadas e menos consumistas, além de competentes profissionalmente, acumularão mais dinheiro e propriedades.

Se a sociedade é livre, elas naturalmente transmitirão seu patrimônio a seus filhos. Mas, neste caso, a sociedade deixará de ser igualitária, pois algumas pessoas herdarão riqueza pelas quais jamais trabalharam, recebidas pela “sorte do berço” (nascimento).

Essa trindade impossível talvez seja o maior desafio a ser enfrentado pela política democrática republicana. Por exemplo, os honorários de advogado especialista em inventário e partilha de bens, obrigatório de ser contratado por lei, é justo?

Os honorários, segundo a tabela da Ordem de Advogados do Brasil (OAB), não são livres. São no mínimo de 6% do patrimônio ou quinhão dos herdeiros, tratando-se de uma partilha amigável, onde todos os herdeiros estão de acordo. No caso de a partilha seguir sem haver acordo judicial entre os herdeiros, a tabela estabelece como piso o percentual de 8% do quinhão de cada herdeiro, representado por seu advogado.

O inventário costuma demorar pelo menos seis meses, portanto, é prudente deixar em PGBL/VGBL o valor suficiente para a família se manter durante esse período. Esse dinheiro poderá também ser útil para arcar com custos com advogados ao longo do inventário ou fazer manutenção de imóveis até a partilha definitiva.

O custo total de um inventário atinge 11% ou mais do valor da herança destinada ao cônjuge e aos filhos, sendo 4% de ITCMD, no mínimo 6% de honorários do advogado e 1% de outras despesas como o custo do fórum ou cartório. Não desestimula a poupança e estimula o consumismo em vida para evitar essa expropriação da herança? Como evitar isso, racionalmente, com um planejamento sucessório e tributário?

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