Ascensão do Populismo de Direita
Seria de esperar que o apoio eleitoral daqueles com perdas relativas, nas últimas três décadas, fosse para partidos de esquerda em seus países. No entanto, isso geralmente não aconteceu na Europa e nos EUA, embora tenha acontecido na América Latina
Enquanto os trabalhadores altamente qualificados e bem-educados prosperaram muito nas últimas três décadas, ao lado da classe capitalista, há muito menos deles em lugar das classes médias baixas.
Embora Charles Goodhart e Manoj Pradhan, coautores do livro A Grande Reversão Demográfica: Sociedades Envelhecidas, Desigualdade em Declínio e um Renascimento da Inflação, lançado em 2020, tenham sugerido os membros mais pobres da sociedade terem sido razoavelmente bem cuidados por medidas de políticas sociais, a maior parte da força de trabalho e da sociedade passou por momentos difíceis. Viram pouco progresso nos seus padrões de vida.
Tudo isso estava acontecendo enquanto seus chefes recebiam pacotes de pagamento multimilionários de encher os olhos, bem divulgados pela imprensa. A proporção entre a remuneração dos CEOs e seu trabalhador médio disparou, na maioria das economias avançadas, durante as últimas décadas para níveis sem precedentes.
O sistema capitalista dificilmente parece justo quando mesmo aqueles dirigentes ou administradores de empresas falidas podem sair não apenas com uma vasta riqueza acumulada, mas também com pagamentos de pensões futuras supergenerosas.
Os pacotes de pagamento normalmente incluem um bônus anual e um “plano de incentivo de longo prazo” além do salário base. Embora os aumentos salariais tenham sido constantes, desde o fim da década de 1990, os pagamentos relacionados ao desempenho gerencial aumentaram, dramaticamente, levando a um rápido aumento no pagamento total no mesmo período.
Em tais circunstâncias, seria de esperar o apoio eleitoral daqueles com perdas relativas, nas últimas três décadas, fosse para partidos de esquerda em seus próprios países. Afinal, esses partidos geralmente eram fundados para fomentar os interesses e zelar pelo bem-estar no cenário político das classes trabalhadoras.
No entanto, isso geralmente não aconteceu na Europa e nos EUA, embora tenha acontecido na América Latina. Em vez disso, o apoio dos socialmente “perdedores” foi na Europa, principalmente, para partidos radicais, populistas e de direita. Exemplos estão facilmente disponíveis; Trump na América, Brexit no Reino Unido, a Liga do Norte na Itália, Rassemblement National na França, AFD na Alemanha, Orban na Hungria, Law and Justice na Polônia, True Finns, etc. Em 2018, a um militar-miliciano no Brasil…
Por qual razão tem sido assim? Uma resposta simples é “atitudes em relação à imigração”.
Os políticos e ativistas dos partidos de esquerda costumam ser idealistas. São os defensores da irmandade do homem, sem discriminação de nacionalidade, etnia, sexo ou qualquer outra coisa.
Sabem só existir uma única raça humana, as demais desapareceram com o advento do Homo Sapiens. Raças não se referem às diversas epidermes de acordo com a adequação (seleção natural) milenar ao meio-ambiente habitado.
Há muito mais trabalhadores eleitores em vez de proprietários de capital. Como grandes faixas da classe trabalhadora em economias avançadas ficaram descontentes com a configuração econômica e política resultante da globalização, eles votaram por uma imaginária mudança com demagogos políticos populistas de direita, em vez de socialistas de esquerda, como era tradicionalmente.
Um elemento-chave explicativo foram as distintas atitudes dos líderes de esquerda – em contraste com seus eleitores tradicionais – em relação à imigração. Os líderes políticos de esquerda em geral são crentes defensores da “fraternidade humanitária”.
O partido de origem trabalhista, em cada país, costuma contar com o apoio de antigos, atuais e futuros imigrantes. Ele tende a ser solidário e brando em relação ao controle de imigração.
Em contraste, o típico “trabalhador de colarinho azul” (operário), nas economias avançadas, via os imigrantes como concorrentes, parcialmente responsáveis por conter os aumentos salariais e trazer consigo mudanças culturais e sociais indesejáveis.
De maneira oportunista, políticos de direita enfatizaram os valores patrióticos nacionais (“Make America Great Again”; “Take Back Control”) e discursavam em oposição à migração interna em larga escala. Infelizmente, essas posições ressoaram junto a muitos trabalhadores braçais e suas famílias, poucos instruídos e sofrendo o descenso social.
Como Goodhart e Pradhan afirmaram, a globalização, na verdade, levou a uma maior igualdade mundial, apesar de seus efeitos adversos sobre a desigualdade dentro de cada país. Apresentam estimativa de “a migração totalmente liberalizada aumentaria o bem-estar em cerca de três vezes”.
Além disso, os partidos de esquerda são geralmente os partidos ao qual os migrantes, uma vez inscritos nos cadernos eleitorais, geralmente apoiam. Assim, é muito mais difícil para esses partidos propor controles rígidos sobre a migração interna em vez de ser para os partidos de direita fazê-lo. Estes direitistas enfatizam muito mais as virtudes do nacionalismo patriótico e a manutenção das culturas locais.
Há a tendência de acreditar a globalização ter afetado mais as classes médias baixas por meio da terceirização de empregos e oferta de trabalho para trabalhadores no exterior em produção offshoring. O visto pelos trabalhadores com seus próprios olhos é o efeito da migração interna sobre a disputa por empregos no próprio país.
Embora a questão de saber se a migração interna teve algum efeito deletério significativo sobre os empregos e salários dos trabalhadores domésticos e locais continue sendo uma questão controversa na literatura profissional, “uma grama de experiência vale vários quilos de conselhos abstratos de especialistas”. O medo em relação à migração ser capaz de fazer, potencialmente, em vez de sua realidade, é espalhado pela direita nacionalista para direcionar a opinião dos incultos e recalcados pelo retrocesso social.
No referendo do Brexit, houve uma relação negativa entre o nível de migrantes anteriores em cada círculo eleitoral e o voto para sair da União Europeia, mas uma relação positiva entre a variação percentual na migração recente e o voto para sair.
Enquanto as pessoas, na prática, tendem a se adaptar com relativa facilidade a diferentes diferenças culturais e étnicas no devido tempo, é o medo da mudança cultural e social e econômica aquilo capaz de impulsionar a opinião política, especialmente entre os idosos, embora alguns autores afirmem na União Europeia as atitudes positivas em relação à imigração serem uma função da idade em forma de U.
A posição populista de direita sobre a migração e o reforço do nacionalismo estavam muito mais em harmonia com as visões subjacentes daqueles “perdedores” em lugar da posição mais abrangente dos partidos de esquerda.
Não está claro se e como esse realinhamento de visões políticas pode mudar. Dentro dessa lógica estreita, os eleitores com votos em partidos populistas de direita não são irracionais.
Entre os fatores vistos como tendo dificultado suas vidas nas últimas décadas, a globalização tem sido um dos mais significativos. A chegada ao poder de partidos populistas da ultradireita nacionalista, caso ocorra, colocará uma grande trava na roda da globalização e fará retroceder o relógio da história.
Uma combinação de fatores produziu o maior choque positivo massivo de oferta de trabalho e tendência deflacionária de toda a história nas três décadas de 1989 a 2019:]
1. a ascensão da China,
2. a globalização,
3. a reincorporação do Leste Europeu no sistema de comércio mundial,
4. a entrada dos babies boomers na força de trabalho,
5. a melhora da taxa de dependência (número de dependentes/adultos),
6. o aumento do emprego das mulheres.
Combinado com outros efeitos demográficos – declínio da taxa de natalidade, queda do tamanho da força de trabalho, aumento do número de aposentados, extensão da expectativa de vida com demência, elevação dos custos de cuidados com idosos –, somente em curto prazo o retrocesso com o protecionismo poderá beneficiar relativamente “os deixados para trás” em cada país. Terá, ao mesmo tempo, efeitos fortemente adversos sobre o crescimento e a igualdade mundiais. Exacerbará as tensões políticas nacionais e regionais.
É fácil ver aquilo social e globalmente errado. É muito mais difícil ver como sair dessa confusão política, atualmente assolando os regimes eleitorais dos EUA e da Europa.
Estudante de História e de Direito, um dos membros fundadores do movimento Geração 68 Sempre na Luta, faz parte da equipe executiva e da equipe de redação do Fórum 21 e produz, às quintas-feiras, o Focos 21