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A brusca guinada para a extrema direita na Argentina

A brusca guinada para a extrema direita na Argentina

O irreverente candidato argentino, autodeclarado “anarco-capitalista”, Javier Milei, contribuiu para o sucesso das tendências de extrema direita ao se destacar como o candidato presidencial melhor posicionado nas primárias abertas para a eleição presidencial que ocorrerá na Argentina em 22 de outubro

Por Correspondente IPS em Buenos Aires

A surpreendente vitória do economista de extrema direita Javier Milei nas primárias da eleição presidencial na Argentina, no domingo (13), representa uma mudança abrupta para a direita no país governado pelo peronista (centro-esquerda) Alberto Fernández desde dezembro de 2019.

Milei, com um discurso contra a “casta política” que capitalizou o descontentamento da sociedade, obteve 30,3% dos votos nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO) e disputará a presidência nas eleições previstas para 22 de outubro, com um eventual segundo turno em 19 de novembro.

Seus rivais serão Patricia Bullrich, uma ex-ministra da Segurança e candidata da coalizão Juntos pela Mudança (centro-direita), que obteve 28,2% dos votos, e Sergio Massa, atual ministro da Economia e líder da União pela Pátria, partido governista, que conseguiu 27% dos votos.

“Conseguimos construir esta alternativa que porá fim à casta política parasitária, corrupta, inútil”, exclamou Milei em seu primeiro discurso após conhecer os resultados, e afirmou que seu partido, Liberdade Avança, está em condições de vencer a presidência no primeiro turno, em outubro.

Os meios de comunicação descreveram a vitória de Milei nas PASO como um “choque” para a Argentina, mostrando a surpresa do primeiro lugar de um representante da antipolítica, caracterizado pela mídia e analistas como uma figura extravagante.

Os resultados mostram um eleitorado dividido em três grandes partes e emergindo em meio a uma severa crise econômica, marcada por uma inflação de 115% ao ano, uma pobreza próxima a 40% e uma moeda com seu valor derretendo devido a uma depreciação incessante e múltiplas taxas de câmbio.

Na segunda-feira (14), após o triunfo de Milei, o Banco Central argentino desvalorizou o peso em 18% e elevou sua taxa de juros de referência em 21 pontos percentuais, para 118%, numa tentativa de acalmar os mercados, que apostavam na vitória dos candidatos mais moderados.

Milei propôs eliminar o Banco Central e dolarizar a economia, entre outras medidas que contrastam fortemente com a política tradicional.

Alinhado abertamente com posições internacionais da extrema direita, Milei se autodenomina “anarco-capitalista”, é contra o aborto, acredita que a mudança climática é “uma farsa da esquerda”, propõe permitir o porte livre de armas para enfrentar a criminalidade e até apoia a venda de órgãos.

Com 52 anos, solteiro, sem filhos, professor universitário e apresentador de programas críticos de rádio, Milei também se beneficiou de sua figura irreverente – desalinhado, com linguagem direta e por vezes grosseira – para capitalizar com sucesso a raiva e a frustração dos argentinos.

Após os resultados, houve expressões de júbilo no partido espanhol de extrema direita Vox e no Irmãos da Itália, liderado pela primeira-ministra de direita Georgia Meloni, bem como de Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

O presidente de esquerda do México, Andrés Manuel López Obrador, destacou a crise argentina e sua inflação persistente ao lembrar que a ascensão de Adolf Hitler na Alemanha em 1933 também ocorreu após uma crise inflacionária.

Ele prontamente esclareceu: “Não estou comparando Milei com Hitler, só para deixar claro, estou fazendo uma referência histórica”.

Após as PASO, agora começa uma corrida em direção a outubro – além do presidente e vice-presidente, parte do Congresso, a prefeitura da capital e o governo da província de Buenos Aires também serão escolhidos – com os três blocos na disputa, já que Bullrich e Massa anunciaram que lutarão sem trégua para alcançar a vitória.

Massa tem como candidato a vice-presidente Agustín Rossi, que já foi chefe de gabinete de Fernández; o companheiro de Bullrich é Luis Petri, um deputado do tradicional partido centrista União Cívica Radical, e Milei tem como companheira a deputada ultraconservadora Victoria Villarruel.

Tanto o presidente Fernández quanto a vice-presidente e ex-presidente Cristina Fernández (2007-2015), ambos peronistas, decidiram não competir nesta eleição, e suas respectivas correntes partidárias se uniram em torno de Massa.

A Argentina, terceira maior economia da América Latina e importante exportadora mundial de alimentos, deve cumprir um acordo de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional.

*Imagem em destaque: (Pablo Añeli/Télam)

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução de Marcos Diniz

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