Desigualdade no mundo: pirâmide UBS 2023
A pirâmide acima ajuda, pela forma visual, a ter uma noção real, a “ver” os números. Uma ferramenta útil, por exemplo, para os professores que queiram fazer os alunos entenderem a dimensão dos nossos desafios.
POR LADISLAU DOWBOR*
Todos sabemos do drama da desigualdade, ainda mais porque somos um dos países mais desiguais do planeta. Mas muitos têm dificuldade em dimensionar realmente a que ponto isso é catastrófico.
A pirâmide acima ajuda, pela forma visual, a ter uma noção real, a “ver” os números. Por exemplo, professores que queiram fazer os alunos entenderem a dimensão do desafio. A fonte é de banqueiros, e confiável. E acrescentamos um parágrafo da Oxfam, que mostra que no tempo a situação piora.
A leitura da pirâmide é simples. No relatório Global Wealth Report 2023, o banco suíço UBS analisa as fortunas pessoais de 5,4 bilhões de adultos no mundo, e apresenta como se distribuem os 454 bilhões de dólares que eles detêm.
No topo, 59,4 milhões de pessoas, 1,1% dos adultos no mundo, têm patrimônio de mais de 1 milhão de dólares, somando um total de 208,3 trilhões, ou seja, 45,8% da riqueza pessoal do planeta. Vivemos para o 1%.
Logo abaixo, 642 milhões de pessoas, 12% da população adulta, com fortunas individuais entre 100 mil e um milhão de dólares, detêm 178,9 trilhões de dólares, 39,4% do total. Somando os dois níveis no topo, 13,1% da população detêm 387,2 trilhões, 85,2% do total da riqueza dos adultos no mundo. Aqui estão as grandes fortunas, em função de quem o sistema está organizado, e a classe média alta que de certa forma gera uma base apoio ao 1% dominante. Asseguram inclusive o apoio político ao sistema.
Mais abaixo, as pessoas que detêm patrimônio entre 10 e 100 mil dólares, são 1,844 milhões de adultos, cerca de um terço do total, 34,4%, somando um patrimônio de 61,9 trilhões, 13,6% do total. Trata-se do que podemos classificar de classe média baixa, apenas razoavelmente inseridos.
O drama está na metade mais pobre da população, 2,818 milhões de pessoas, 52,5% do total, que detêm patrimônio abaixo de 10 mil dólares, sem acumulação, vivem de tentar fechar o mês. A cifra mais dramática, é que esses, que representam mais da metade da população mundial, detêm apenas 5,3 trilhões, 1,2% do total.
No texto, o relatório do UBS comenta:
“Resumindo, a metade mais pobre da população global é proprietária de menos de 1% da riqueza total. Em forte contraste, o 10% mais rico detêm 81% da riqueza mundial; e o 1% mais rico, 44,5% da riqueza global.” (p. 121).
Reparem que bastaria tirar 2,5% da riqueza dos 1,1% mais ricos, para dobrar a riqueza dos quase três bilhões de pobres.
“A riqueza dos cinco maiores bilionários do mundo dobrou desde 2020, enquanto a de 60% da população global – cerca de 5 bilhões de pessoas – diminuiu nesse mesmo período. Se o cenário geral não mudar, em 10 anos teremos o primeiro trilionário, mas só conseguiremos acabar com a pobreza em 230 anos!”
Não só a situação é absurda, como está se agravando.
Mais uma vez, o Brasil ocupa a primeira posição no ranking de concentração de renda e riquezas. De acordo com o relatório Global Wealth Report 2023, lançado recentemente pelo banco suíço UBS, quase metade da riqueza do país (48,4%) está nas mãos de apenas 1% da população. Índia (41%); Estados Unidos (34,3%); China (31,1%); e Alemanha (30%) também estão no topo do lista.” (Rede Brasil Atual).
Além do imenso sofrimento da base da população, o óbvio nestes números é que temos o suficiente para todos, bastando reduzir um pouco a desigualdade. Por outro lado, é burrice econômica, pois ao empobrecer a massa da população, o processo limita o consumo e o investimento produtivo e, portanto, o emprego e o crescimento econômico.
*Esta nota está disponível também no meu site dowbor.org
Economista e professor na PUC-São Paulo. Seu site dowbor.org é uma biblioteca científica online destinada aos que se interessam por uma visão progressista e renovadora sobre o desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental. Seus principais trabalhos estão disponíveis online, entre eles, os mais recentes Resgatar a Função Social da Economia, O Capitalismo se Desloca e A Era do Capital Improdutivo. Também estão online os três volumes de A Reprodução Social da Economia e o autobiográfico O Mosaico Partido.