Esperançando
O presidente Lula será o maestro que vai dirigir a maior orquestra do planeta, de 215 milhões de almas, tocando a partitura mais bonita jamais ouvida, refazendo o país.
Por LENEIDE DUARTE-PLON, de Paris
Vinte anos depois de sua primeira eleição para a Presidência, o garoto nordestino, filho de Eurídice Ferreira de Melo, dona Lindu, voltou a esperançar o Brasil.
Vamos conjugar o verbo em todas as pessoas, em todos os tempos.
Esperancemos, precisamos de esperança.
Lula foi eleito com o maior número de votos que um presidente jamais teve em toda a história do Brasil.
Esse número fala por si. Fala de nosso desamparo, de nossa necessidade vital de esperançar.
O Brasil vive há seis anos sob o signo da destruição e do retrocesso. Desde 2016, quando um pesadelo começou a destruir a frágil democracia brasileira.
Vamos pegar nossas pás e nossos tijolos com cimento… e mãos à obra. Tem muita terra arrasada, a começar pela Amazônia, passando pelos direitos trabalhistas, pelo orçamento secreto que tem que ser revelado à luz do dia, pelos sigilos de 100 anos para esconder todas as falcatruas do desgoverno do inominável, pelo isolamento do Brasil na cena internacional.
Vamos fechar os parênteses dos 6 anos de inferno que esse país alegre e acolhedor conheceu. Foram seis anos de trevas. O Brasil precisa voltar a brilhar no mundo.
Foram milhares de rostos gritando ódio, homenageando torturadores dentro do Congresso Nacional, sem punição.
Foram quase 700 mil mortos na pandemia de Covid, sem punição dos responsáveis. Foram milhares de brasileiros jogados nas calçadas com frio, sede e fome, sem punição para o responsável que ainda negava a existência da fome no país. E imitava pessoas morrendo de falta de ar. A perversão não tinha limites.
Desde a deposição de uma presidente sem crime de responsabilidade, foram seis anos de descida ao inferno. Dante não o descreveu mais terrível, mais assustador.
É hora de reconstruir.
Mutirão de pedreiros de todas as idades, vamos ser todos chamados a reconstruir. A bordar alianças. A superar divergências que são apenas detalhes diante da maior tarefa: reconstruir uma democracia sólida, para todos os brasileiros, sem distinção de cor, etnia, religião, crença. Todos são bem-vindos neste mutirão.
O presidente Lula será o maestro que vai dirigir a maior orquestra do planeta, de 215 milhões de almas, tocando a partitura mais bonita jamais ouvida. Reconstruir, refazer, refazendo o país.
A Amazônia deve parar de queimar. Árvores em pé nos dão vida, deitadas são todo um ecossistema assassinado.
Precisamos parar a destruição da Amazônia em nome da Vida. Precisamos respirar, precisamos dos animais que garantem aquela biodiversidade, precisamos do regime de chuvas que a floresta garante em equilíbrio perfeito.
O Brasil precisa, o planeta precisa da Amazônia.
« O mundo precisa de Lula», dizia um grande cartaz luminoso em um prédio de Nova York na véspera da eleição.
Precisamos costurar o tecido social esgarçado, como a costureira numa roupa que esgarçou.
O fio e a agulha somos nós.
Todos nós.
Leneide Duarte-Plon é co-autora, com Clarisse Meireles, de « Um homem torturado, nos passos de frei Tito de Alencar » (Editora Civilização Brasileira, 2014). Em 2016, pela mesma editora, lançou « A tortura como arma de guerra-Da Argélia ao Brasil : Como os militares franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado ». Ambos foram finalistas do Prêmio Jabuti. O segundo foi também finalista do Prêmio Biblioteca Nacional.