Le Monde Diplomatique: “Retorno do Brasil ao desenvolvimento internacional sob Lula”
Com o título “O retorno do Brasil ao desenvolvimento internacional sob Lula 3.0”, o Le Monde Diplomatique traz extenso artigo mostrando a trajetória internacional de Lula no terceiro mandato. O envolvimento do Brasil em blocos políticos regionais e globais tem sido retomado nesses primeiros meses do terceiro governo de Lula. Além do Brics e do G20, para os quais se espera maior participação dos países latino-americanos, o Brasil voltou a se engajar com o bloco regional da América Latina e Caribe, a Celac, tentou revigorar a Unasul e trabalhou para fortalecer o bloco económico regional do Mercosul com vistas à retoma das negociações comerciais com a União Europeia e às relações comerciais da região com a China. A África ocupa uma posição importante nesta nova política externa brasileira.
Alguns desses compromissos novos ou renovados refletem as prioridades políticas específicas que Lula anunciou para seu governo, incluindo ações internacionais para combater a fome e as mudanças climáticas, e particularmente a necessidade de reduzir o desmatamento das florestas tropicais.
EUA x Golpes
A publicação americana Democracy Now relata a visita do congressista democrata Greg Casar, do Texas, que se reuniu com os novos governos de esquerda no Brasil, Colômbia e Chile antes do 50º aniversário do golpe chileno apoiado pelos EUA, que derrubou o presidente democraticamente eleito Salvador Allende e instalou uma ditadura militar de 17 anos liderada por Augusto Pinochet. Casar foi acompanhado por outros membros progressistas latinos do Congresso, incluindo Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, e o também texano Joaquin Castro.
Durante a viagem, os congressistas pediram que o governo Biden retire o sigilo de mais documentos que revelam o papel dos EUA no golpe. Foi a primeira vez que uma delegação de congressistas totalmente latino-americana viajou para a América Latina, diz Casar, e marcou uma tentativa “histórica” de jovens legisladores progressistas de romper com o intervencionismo americano da era da Guerra Fria no continente e avançar em direção a um relacionamento “baseado no respeito mútuo e no apoio à democracia”. O texto cita que comemorações estão sendo planejadas no Chile para o dia 11 de setembro para marcar o 50º aniversário do golpe militar apoiado pelos EUA.
* O Democracy Now! Informa que “produz um noticiário diário, global e independente. Nossas reportagens incluem manchetes de notícias diárias de última hora e entrevistas detalhadas com pessoas que estão na linha de frente das questões mais urgentes do mundo”.
Economia
O Financial Times traz análise sobre os investimentos estrangeiros na América Latina em 2022. Afirma que foi um ano de grande turbulência política na América Latina. A Colômbia elegeu um ex-guerrilheiro de esquerda como presidente, o Chile considerou (e rejeitou) uma nova constituição radical, o presidente eleito do Peru sofreu impeachment e foi preso enquanto aguarda julgamento após uma tentativa fracassada de tomar poderes extraordinários e o líder de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, perdeu por pouco uma candidatura à reeleição. Esse também foi um ano recorde para investimentos estrangeiros diretos. Os investidores destinaram US$ 225 bilhões para a América Latina e o Caribe em 2022, de acordo com a Cepal, a agência econômica da ONU para a região, 55% a mais do que no ano anterior e superou com folga o pico anterior, registrado uma década antes. Parte do aumento foi uma recuperação pós-pandemia, mas o número de projetos futuros anunciados também aumentou, embora de forma mais modesta. Houve outras surpresas.
Apesar do alarme em Washington sobre o crescente interesse chinês na América Latina, Pequim e Hong Kong foram responsáveis por apenas 3% do dinheiro que fluiu para a região no ano passado. Isso ficou muito atrás dos 38% dos EUA ou dos 29% da UE (embora alguns investimentos chineses possam ter sido canalizados por meio de outros países).
O Brasil foi tão popular entre os investidores que se tornou o quinto destino mundial para investimentos estrangeiros no ano passado, atrás dos EUA, China, Hong Kong e Cingapura, de acordo com a Unctad. O Brasil também é a principal economia em desenvolvimento para investimentos internacionais em energia renovável, de acordo com a Unctad, com US$ 115 bilhões em projetos.
O Brasil criou 142.702 novos empregos formais em julho e, no acumulado do ano, foram gerados 1 milhão 166.125, segundo informou hoje o Ministério do Trabalho. De acordo com o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o saldo positivo foi registrado nos cinco grandes grupos de atividades econômicas e em 26 das 27 unidades federativas. Esse crescimento permitiu que o número de trabalhadores com contratos formais de trabalho e todas as garantias trabalhistas saltasse de 42,04 milhões em julho de 2022 para 43,61 milhões em julho passado, informa a agência cubana Prensa Latina.
Rússia
A Rússia informou à autoridade brasileira de investigação aeronáutica que não investigará a queda do jato da Embraer (EMBR3.SA), fabricado no Brasil, que matou o chefe mercenário Yevgeny Prigozhin sob as regras internacionais “no momento”, em texto exclusivo da Reuters na terça-feira. Prigozhin, dois dos principais tenentes de seu Wagner Group e quatro guarda-costas estavam entre as 10 pessoas que morreram quando o Embraer Legacy 600 caiu ao norte de Moscou na semana passada. Ele morreu dois meses depois de organizar um breve motim contra a instituição de defesa russa que representou o maior desafio ao governo do presidente Vladimir Putin desde que ele chegou ao poder em 1999. O Centro de Pesquisa e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) do Brasil, no interesse de melhorar a segurança da aviação, havia dito que participaria de uma investigação liderada pela Rússia se fosse convidado e se a investigação fosse realizada de acordo com as regras internacional.
O texto da Reuters foi replicado no americano Politico
no Guardião
Também no britânico Daily Star
E no Japan Times
Marco temporal
O Congresso e o Supremo Tribunal Federal estão discutindo um argumento legal que, se transformado em lei ou declarado constitucional pelos juízes, poderia muito bem impedir para sempre as reivindicações de terras indígenas brasileiras, informa a publicação Brazilian Report em um podcast. Esta semana, o Supremo Tribunal Federal retoma o julgamento de um argumento jurídico conhecido no Brasil como “marco temporal” – provavelmente melhor traduzido como “argumento do ponto de corte”. O julgamento está em 2 a 1 contra a tese jurídica, mas ainda restam oito ministros para votar – e ninguém sabe qual será o resultado. Em termos gerais, o argumento do ponto de corte é visto como extremamente ruim para os povos indígenas do Brasil e bom para aqueles que buscam possuir terras em territórios ancestrais. O site cita que o governo lutaria pelos grupos marginalizados, em total contraste com a administração anterior de Jair Bolsonaro, que, antes de ser eleito, afirmou com orgulho que as minorias tinham que ficar quietas e se curvar à maioria.
Mercosul-UE
O argentino Ámbito informa que o Mercosul terá sua contraproposta a um adendo da União Europeia ao acordo comercial entre os dois blocos pronta em setembro, disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira. Vieira disse ao grupo de estados agrícolas do país no Congresso que a contraproposta do Mercosul à chamada carta de acompanhamento da UE está atrasada pela mudança de governo no Paraguai. Mas a resposta paraguaia estará pronta em 17 de setembro, disse o líder da bancada agrária, Pedro Lupion.
Foto: Lula, o presidente chinês, Xi JinPing, e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa em agosto / Gianluigi Guercia / Pool / AFP
Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.