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Quando revolta e rebelião levam à revolução

Quando revolta e rebelião levam à revolução

O belo filme RRR – Revolta, Rebelião, Revolução -, um dos favoritos para ganhar o Oscar de 2023, conta uma história de luta pela liberdade enraizado na tradição indiana.

O belo filme RRR conta uma história de luta pela liberdade enraizado na tradição indiana. Pensando com calma nesse super espetáculo cinematográfico indiano, RRR – Revolta, Rebelião, Revolução,* um dos favoritos para ganhar o Oscar de 2023, lembramos do Super Homem, o personagem  criado e vendido pela indústria de Hollywood no pós guerra dos anos 50, a fantástica máquina  produtora de filmes e de propaganda ainda hoje procurando  influenciar as novas gerações que vieram depois.

O fenômeno de crítica e de bilheteria vindo da Índia acaba de conquistar, no Critics Choice Awards 2023,  o prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Foi premiado também com a estatueta de Melhor Canção Original, vibrante composição Naatu Naatu, de M.M. Keeravaani, e mais: o filme está bem cotado no Oscar do dia 12 de março próximo.

O que há nele para o seu inesperado sucesso de crítica e bilheteria?

Na trama desse super musical, um guerreiro corajoso, versão mitológica oriental de Clark Kent criado pelo DC Comics, encontra um soldado durão do exército britânico, exemplar brilhante de militar colonizado. Junto com ele, com quem desenvolve forte amizade, porém sem saber da sua identidade verdadeira, o super homem vive uma saga épica documentada com danças, canções, acrobacias, mágicas e símbolos em  sequências surpreendentes ambientadas no reino britânico da Índia pré-independência, o raj britânico formado na época pela atual Índia, Paquistão, Myamar e Bangladesh.

O elenco é excelente, os dois protagonistas são brilhantes e embora seja uma maratona com mais de duas horas de duração RRR – Revolta, Rebelião, Revolução vem na contramão da tendência de agora de produção de filmes mais curtos, mais secos, sintéticos e com menos adjetivos. Nem é distopia nem filme político (embora seja uma fantasia política potente), e nem cinebiografia – as principais tendências atuais.

O ótimo roteiro, do diretor S.S. Rajamouli e de seu pai, o escritor Vijayendra Prasad, trata da saga do super homem mítico Alluri Sitarama Raju, da tribo Gond, da floresta, que tenta salvar uma criança da sua comunidade sequestrada pelos britânicos encantados pela  habilidade dela em pintar e decorar corpos.

Raju é um personagem que existe na tradição milenar indiana e é utilizado para contar essa história de luta por direitos humanos básicos. No mito, ele é aquele que ”afia o tigre”, que renunciou à vida social, se tornou monge e, depois, revolucionário. No filme, é o aliado do soldado Komaram Bheem, seu  companheiro na revolução.

Liderado por eles, o povo submisso começa a se revoltar, rebela-se e procura recuperar a liberdade. O próximo passo será a revolução como mostra a História.

O que é real, no filme, vai se fundindo com fantasia, com fábulas e com signos nessa missão de vida ou morte que transcorre sob os olhos do espectador hipnotizado não só pelas contradições e pelas várias direções assumidas pela narração como pela extraordinária beleza plástica obtida com o bom uso de recursos cinematográficos que regam algumas sequências e expandem reações; algumas musicadas com vibrantes composições, hinos de guerra, de revolta e reafirmação de desagravo.

Neste momento da realidade nacional, no Brasil, em que a palavra símbolo, redescoberta pela mídia, está em voga no manejo da linguagem cotidiana política – quase tudo, hoje, é identificado como  ”simbólico” -, o filme-símbolo de S. S. Rajamouli vem a propósito e oferece uma coletânea fascinante e desafiadora de um sem número de representações inteligentes e de sinais embutidos em diálogos e nas ações dos personagens.

Ao espectador cabe decifrá-los assistindo à maratona RRR.

*Netflix

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