No Planalto, Lula e Blinken falam sobre Israel; no G20, Brasil critica paralisia da ONU ao não impedir guerras
A reunião dos chanceleres dos países do G20 no Rio de Janeiro e o encontro do secretário dos EUA Antony Blinken com o presidente Lula no Palácio do Planalto foram os assuntos sobre o Brasil desta quarta-feira na mídia internacional. As declarações de Lula sobre a guerra de Israel contra Gaza ainda merecem reportagens.
O chanceler dos EUA, Antony Blinken, e o presidente Lula tiveram uma “troca franca” nesta quarta-feira, na qual o secretário de Estado deixou claro para o líder brasileiro que os EUA não concordam com seus comentários recentes sobre a guerra de Israel em Gaza, informa a Reuters. A agência afirma que Lula está no meio de uma disputa diplomática com Israel por causa de comentários em que comparou a guerra em Gaza ao genocídio nazista durante a Segunda Guerra Mundial, levando Israel a dizer que ele não seria bem-vindo no país até que retirasse os comentários. “Eu diria que foi uma troca franca, com o secretário deixando claro que não concordamos com esses comentários”, disse uma autoridade sênior do Departamento de Estado, que deu as informações aos repórteres após a reunião em Brasília. Autoridades norte-americanas já haviam dito anteriormente que esperavam que Lula e Blinken tivessem uma boa conversa sobre questões de segurança global, incluindo o conflito em Gaza. “O presidente Lula reafirmou seu desejo de paz e o fim dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza”, disse o governo brasileiro. “Ambos concordaram com a necessidade da criação de um Estado palestino.” Venezuela e eleição nos EUA também fizeram parte da conversa.
No argentino Clarín, destaque para Blinken, que disse ao presidente Lula que rejeita a comparação da ofensiva israelense em Gaza com o Holocausto e concordaram com a necessidade da criação de um Estado palestino.
O colombiano El Tiempo também publicou reportagem sobre reunião Lula-Blinken e destacou que discutiram o processo das eleições presidenciais de novembro próximo nos Estados Unidos. O chefe da diplomacia norte-americana explicou ao líder brasileiro que “há um longo caminho pela frente”, que seu país está “polarizado” e que o resultado das eleições, nas quais o atual presidente, Joe Biden, está tentando a reeleição, será decidido em poucos estados, entre eles Michigan e Wisconsin.
O site Brazilian Report, feito em inglês por brasileiros, também noticiou o encontro Lula-Blinken, mencionando a polêmica com Israel.
G20 NO RIO
O Brasil abriu a conferência de ministros das Relações Exteriores dos países as nações do G20 nesta quarta-feira culpando as Nações Unidas e outros órgãos multinacionais por não conseguirem impedir o aumento de guerras e conflitos que estão matando pessoas inocentes. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, pediu uma “reforma profunda” da governança global como a principal prioridade do Brasil na presidência deste ano do grupo das maiores economias do mundo, como informa a Reuters. “As instituições multilaterais não estão adequadamente equipadas para lidar com os desafios atuais, conforme demonstrado pela inaceitável paralisia do Conselho de Segurança em relação aos conflitos em andamento”, disse Vieira na abertura da reunião de dois dias para preparar a agenda da cúpula anual do G20 em novembro. “Esse estado de inação resulta na perda de vidas inocentes”, disse. Os ministros das nações do G20, incluindo os Estados Unidos e a Rússia, iniciaram uma discussão livre sobre as tensões mundiais atuais e as formas de melhorar as organizações multilaterais – uma prioridade estabelecida pelo presidente Lula, juntamente com a contenção das mudanças climáticas e a redução da pobreza, informa a Reuters.
“Presidência brasileira do G20 começa no Rio com reunião de ministros das Relações Exteriores” é o título da reportagem do britânico Independent. No texto, os ministros das Relações Exteriores do grupo dos 20 países se reuniram nesta quarta-feira no Rio de Janeiro para discutir a pobreza, a mudança climática e o aumento das tensões globais, no momento em que o Brasil assume a presidência anual do bloco. Os ministros e outros representantes das 20 principais nações ricas e em desenvolvimento planejam passar dois dias definindo um roteiro para o trabalho a ser realizado antes da cúpula de 18 e 19 de novembro no Rio. Uma das principais propostas do Brasil, definida pelo presidente Lula, é uma reforma das instituições de governança global, como as Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio e os bancos multilaterais, onde ele quer pressionar por uma representação mais forte das nações em desenvolvimento. Após anos de isolamento diplomático sob o comando do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula tem buscado reinserir o Brasil no palco central da diplomacia global desde que retornou ao poder em janeiro de 2023. Cita Lucas Pereira Rezende, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais, que disse que Lula é especialmente adequado para o papel, lembrando que durante seus mandatos anteriores como presidente, de 2003 a 2010, ele já foi chamado de “o político mais popular do mundo” pelo então presidente dos EUA, Barack Obama.
O latino Nodal publica uma agenda sem fatos do dia com o título “Ministros das Relações Exteriores do G20 se reúnem com foco na governança global e nos conflitos na Ucrânia e em Gaza”.
LULA-ISRAEL
O Israel moderno conta com “o mesmo incentivo, o mesmo financiamento e o mesmo apoio” do Ocidente, como a Alemanha nazista de Adolf Hitler antes da Segunda Guerra Mundial, disse o presidente venezuelano Nicolas Maduro. O presidente fez as observações em seu próprio programa de TV With Maduro Plus, apoiando a avaliação da situação no Oriente Médio feita pelo presidente Lula. “Nomes de famílias poderosas nos EUA, na Europa e em Londres apoiaram e comemoraram a chegada de Hitler ao poder em 1933. Eles o incentivaram e permitiram que ele perseguisse meus ancestrais judeus”, declarou Maduro. O presidente tornou pública sua ascendência judaica no início da década de 2010, revelando que seus avós eram judeus sefarditas que se converteram ao catolicismo, segundo o site russo RT em inglês.
As tensões entre Israel e Brasil continuam aumentando. Após esses eventos, as autoridades brasileiras analisaram algumas medidas para “casos extremos” ou se Israel adotar novas medidas contra o líder brasileiro, de acordo com O Globo. Entre as possíveis ações a serem tomadas está a expulsão do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, e a retirada de seu representante em Tel Aviv, Frederico Meyer. Por enquanto, de acordo com o mesmo jornal, a diretriz do ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, é que não sejam tomadas novas medidas que possam agravar as relações diplomáticas, noticia o uruguaio La Diaria.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, chamou, em um comunicado oficial nesta quarta-feira, de “ultrajantes e incitantes” as palavras de apoio expressas pela Bolívia e Colômbia a Lula, depois que ele foi declarado “persona non grata” por comparar a guerra em Gaza ao Holocausto, publicou o equatoriano El Mercúrio. “O presidente brasileiro foi acompanhado pelos presidentes da Bolívia e da Colômbia, suas palavras são ultrajantes e incitadoras”, disse Gallant em uma declaração oficial.
A controvérsia no Brasil continua a crescer depois que o presidente Lula comparou os ataques de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, e a oposição, liderada pela deputada do Partido Liberal (PL) Carla Zambelli, apresentou um pedido de impeachment com o apoio de 108 deputados, incluindo 27 de partidos aliados ao governo. Embora o partido governista não tenha maioria nas duas casas do Congresso, é improvável que o pedido de impeachment seja bem-sucedido. O presidente já passou por outras tentativas de impeachment desde que assumiu o cargo em 2023, diz o argentino Ámbito.
LULA-GUIANA
A agência cubana Prensa Latina informa que o presidente Lula será um convidado especial na 46ª Conferência de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (Caricom), a ser realizada de 25 y a 28 de fevereiro na Guiana. O tema será as tensões entre Guiana e a Venezuela.
Na foto, Blinken e Lula em encontro no Palácio do Planalto nesta quarta-feira/ Reprodução
Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.